Candomblé

O candomblé é uma religião afro-brasileira.
Veio com os negros africanos escravizados, por meio de suas práticas e do conhecimento dos sacerdotes africanos (muitos deles também trazidos como escravos, ao Brasil) de diversas nações e culturas distintas, da África. Por isso mesmo, o Candomblé é, ele mesmo, uma religião de raízes múltiplas, resultado da união de povos distintos.
Se o candomblé tem raiz na África, em sua cultura, em seu legado, foi no Brasil que ele se transformou.

Afinal, aqueles indivíduos, na África, eram separados e até guerreavam. Diante da mesma condição de submissão, uniram-se e fizeram suas culturas dialogarem entre si.
Hoje, há muitas “nações do candomblé”, como explica o etnomusicólogo Xavier Vatin: leigos acreditam haver um único candomblé, padronizado. Porém, há 6 mil terreiros de candomblé na Bahia, nos quais, em sua maioria, misturam-se "samba, caboclo, pombagira, numa naturalidade completa":
Há as nações Ketu, Angola, Jeje (em Cachoeira, inclusive, há a nação Jeje-Mahi). Em todas elas, não se trata, como catolicismo ou judaísmo, de uma “religião ética” – em que se busca a salvação –, mas sim "anímica", uma vez que se embasa na "anima" (alma) da Natureza. Em cada uma delas, suas divindades – sejam elas os Orixás, os Inquices (Nkisi), os Voduns –, busca-se uma intervenção concreta, no mundo presente. Essas divindades, de modo coerente com sua tradição, não são “boas”, tampouco “más”. Eles regem forças da natureza, além de lidar com o âmbito do cotidiano humano.
O candomblé é monoteísta. Apesar de se cultuarem vários deuses, há um deus único, em cada uma das nações: para a Nação Ketu, deus é Olorum; para a Nação Bantu, deus é Zambi; para a Nação Jeje, deus é Mawu.
O estudioso Alberto Ebomi afirma que o candomblé cultua, entre todas as nações, "umas cinquenta das centenas de deidades ainda cultuadas na África. Mas, na maioria dos terreiros das grandes cidades, são doze as mais cultuadas". Segundo Ebomi, algumas dessas divindades têm características, que podem ser cultuadas como um diferente Orixá/Inquice/Vodun nos diferentes terreiros, o que significa que muitos Orixás do Ketu podem ser identificados como Voduns do Jeje e Inquices dos Bantu em suas características, mas na realidade não são os mesmos; seus cultos, rituais e toques são distintos entre si.
Xavier aponta que foram os antropólogos, especialmente no século XX, que deram maior visibilidade ao candomblé Ketu (ou a Jeje-Nagô), "ao pensarem que era mais africanos do que os outros". Contudo, o que de fato houve foi uma dominância desse candomblé, porque "chegou maciçamente no final do século XIX, na cidade de Salvador e contribuiu para moldar o que entendemos hoje como candomblé, e que deu supremacia ao culto dos candomblés".
Assim como ocorre em outras religiões afro-brasileiras – tal qual a umbanda, por exemplo, que muitas vezes é confundida com o próprio candomblé, mas que é o resultado, segundo Alberto Ebomi, do contato, no início do século XX, no Rio de janeiro, entre o candomblé e o espiritismo kardecista –, no candomblé da nação Ketu, cada pessoa tem seu próprio orixá, que define os traços de personalidade e modos de comportamento. Assim, a característica dos orixás, que não são completamente bons ou maus, também são as características de seus “filhos”.
Pode-se saber quem é o próprio orixá, por meio dos babalorixás e ialorixás, respectivamente pai e mãe de santo.
Devido às condições em que os negros foram trazidos de diferentes regiões da África para o Brasil, estes viram no sincretismo religioso a possibilidade de continuar com suas fés originais.


Sabendo-se que o candomblé é muito sincrético, seguem alguns orixás, suas características principais e seu equivalente na religião católica (fonte: Gaarder; Hellern; Notaker).
Iansã (ou Oiá): orixá do relâmpago, dona dos espíritos dos mortos
Saudação: Eparrei!
Sexo: feminino
Elemento natural: relâmpagos, raios, ventos, tempestades
Cores das roupas e colares: vermelho-escuro e marrom ou branco
Sincretismo: Santa Bárbara
Iemanjá: orixá das grandes águas, dos mares e oceanos, a Grande Mãe, deusa da maternidade
Saudação: Odoyá!
Sexo: feminino
Elemento natural: mares e grandes rios
Cores das roupas e colares: azul-claro, branco, verde-claro
Sincretismo: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora das Candeias (ou dos Navegantes)
Nanã: orixá da lama do fundo das águas
Saudação: Saluba!
Sexo: feminino
Elemento natural: lama, pântanos
Cores das roupas e colares: lilás, azul e branco
Sincretismo: Santa Ana
Ogum: orixá da metalurgia e da tecnologia, deus da guerra.
Saudação: Ogunhê!
Sexo: masculino
Elemento natural: ferro forjado
Cores das roupas e colares: azul-escuro, verde e branco
Sincretismo: São Jorge e Santo Antônio
Oxóssi: orixá da caça, deus da fauna
Saudação: Okê arô!
Sexo: masculino
Elemento natural: florestas e matas
Cores das roupas e colares: azul-turquesa e verde
Sincretismo: São Jorge e Santo Sebastião
Oxum: orixá das águas doces, deusa do amor e da fertilidade
Saudação: Ora yeyê ô!
Sexo: feminino
Elemento natural: rios, lagoas e cachoeiras
Cores das roupas e colares: amarelo e dourado
Sincretismo: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida
Xangô: orixá do trovão, deus da justiça
Saudação: Kaô kabiessi!
Sexo: masculino
Elemento natural: trovoadas, raios e pedras de raio
Cores das roupas e colares: vermelho, marrom e branco
Sincretismo: São Jerônimo e São João Batista
O elemento musical também é central, no Candomblé. Quem fala sobre o assunto é o percussionista Diego Neri:

Os instrumentos tocados em um ritual de candomblé são os atabaques.São chamados, como Diego Neri indicou, Run, Rumpi e Lé - na ordem decrescente de seu tamanho (em tempos mais remotos, também se tocava o Contra-run).
Os atabaques no candomblé são objetos sagrados. É preparado com a pele de animais sacrificados, em oferendas aos Orixás. Esses instrumentos são usados apenas dentro do terreiro; aqueles que vão às ruas, em blocos de afoxés, são preparados exclusivamente com essa finalidade.
Os atabaques só podem ser tocados pelo Alagbê (nação Ketu), Xicarangoma (nações Angola e Congo) e Runtó (nação Jeje). Esse elemento é responsável por tocar o Rum (o atabaque maior). Ele inicia o toque e é através do seu desempenho no Rum que o Orixá executa sua coreografia.
O Ogan (ou Ogã) é responsável por tocar os outros atabaques, assim como as demais funções rituais, no candomblé, já que escolhido pelo para estar lúcido durante todos os trabalhos.